terça-feira, 13 de novembro de 2018

Pinheiro Chagas

Havia baile, ou antes sarau dançante, numa casa em Almada.
Num pequeno jardim, que se espraiava até a beira dos rochedos pendurados sobre o rio, vinham os grupos dos convidados descansar um pouco das polcas e das valsas, respirar, e relancear os olhos pelo delicioso panorama do Tejo, em cujas águas traçava a lua como que uma estrada argêntea. De quando em quando enchia-se o jardim de risos, de segredinhos; a lua iluminava por entre as folhas roupas alvejantes, que passavam flutuando como o véu dos silfos; depois pelas janelas abertas da sala saía uma bafagem de harmonia, proveniente dos primeiros compassos duns lanceiros, os grupos dispersavam-se e engolfavam-se em turbilhão pelas portas de vidraças, e o jardim ficava de novo solitário, mas não silencioso; porque nele se escutava o rumorejar da brisa, o eco da música do baile, e o murmúrio do rio que gemia docemente em baixo nas fragas.

"Astúcias de Namorada e Um Melodrama em Santo Tirso", Pinheiro Chagas

(Manuel Pinheiro Chagas nasceu no dia 13 de Novembro de 1842. Morreu em 1895.)

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