sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Genolino Amado 3

As meninas que riam, que se abraçavam e me abraçavam, convenceram-me, por um minuto, do amanhã nascente naquela manhã. Deixando-as, compareci à assembleia-geral dos professores, em sessão extraordinaríssima no gabinete de Eugênia. Havia um orador, o Feitosa. Não mais o misterioso Feitosa das conversas em surdina a um canto, um Feitosa inaugurado com a Paz, facundo, ruibarbosesco, potente na voz, convincente nos gestos. Dizia:
- Hoje estou seguro, seguríssimo, de que se acabaram as guerras. Sim, acabaram de vez. Depois de tanto que sofreram e aprenderam, os povos viverão em harmonia, as superpotências não abusarão da sua força, desaparecerão as ditaduras, nenhum poder ameaçará os direitos humanos, e os pobres da terra serão menos pobres.
Falou, falou. E ouvimos. Muitos, com a mesma convicção de Feitosa, outros só com esperança, mas nenhum descrente de todo. E aplaudimos o primeiro dos futurólogos.

"O Reino Perdido",  Genolino Amado

(Genolino Amado nasceu no dia 3 de Agosto de 1902. Morreu em 1989.)

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