quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Figueiredo Pimentel 2

Olhos misteriosos

Enigma vivo! esfinge indecifrável!
Quem poderá, acaso, desvendar
Os arcanos que existem no insondável
Fundo daquele olhar?!...

Olhar que lembra o fogo-fátuo, errante,
De cova em cova, rápido, a fugir;
Olhar de aço - ora morto, ora brilhante,
Esquisito, a fulgir...

Olhar imenso, olhar caliginoso,
Do infinito espelhando a vastidão,
Que terrível segredo misterioso
Reflete o teu clarão?

Olhar que fala... Mas que língua estranha,
Que idioma de bárbaro país,
Falam tais olhos, cuja luz me banha,
Fazendo-me infeliz?!...

Que paisagem fantástica de sonho
Esse olhar nebuloso reproduz
- Luar triste, deserto, ermo, tristonho,
Sem trevas e sem luz;

Onde uma cor funérea, indefinida,
(Uma cor, que não é bem uma cor)
Paira como uma luz amortecida,
Um lívido palor?

Enigma vivo! esfinge indecifrável!
Quem poderá, acaso, desvendar
Os arcanos que existem no insondável
Fundo daquele olhar?

Olhar trevoso, olhar que nos aponta
Incognoscível região do além:
Quem é que sabe o que esse olhar nos conta?!
Ninguém!... ninguém!... ninguém!... 

Figueiredo Pimentel 

(Figueiredo Pimentel nasceu no dia 11 de Outubro de 1869. Morreu em 1914.)

Sem comentários:

Enviar um comentário