quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O foguetão e o peido-mestre

(Onde se fala do sábio Eurico da Fonseca, do obeso Kim Jong-un, dos Comandos, da Amadora e de um morteiro descontrolado)

Não sei se se lembram: Eurico da Fonseca (1921-2000) foi o principal especialista português em astronáutica. Praticamente autodidacta, nomeado investigador por decreto-lei e oficialmente equiparado a professor catedrático, colaborou com a NASA e conheceu os principais responsáveis pelo Programa Apollo. Notabilizou-se, entre nós, como divulgador de assuntos científicos. Na rádio, acompanhou em directo, na então Emissora Nacional, a chegada do homem à Lua e comentou os voos espaciais norte-americanos e soviéticos. Mas era na RTP que eu gostava de o ouver. Ouver, escrevi bem.
Foi com Eurico da Fonseca na televisão que eu aprendi que, quando se fala de um aparelho em forma de vibrador que sobe ao céu deixando atrás de si um fluxo de gás a alta velocidade, se deve dizer foguete e não foguetão. Ele explicava, apenas insinuando, que foguetão é outra coisa, por exemplo coisa gasosa, eventualmente sonora e por norma fedorenta. Isto é: um peido, como muito bem diria o nosso travesso Salvador Vilar Braamcamp Sobral.

Em 2012, a Coreia do Norte do obeso Kim Jong-un comemorou o centenário do nascimento do fundador do país, o avô Kim il-sung, pai de Kim Jong-il (esta família tem uma certa queda para ganhar eleições), com o lançamento de um foguetão, como então diziam as nossas notícias. O mundo ficou num à-rasquismo que só visto. Os EUA barafustaram, a ONU repreendeu, a Rússia e a China torceram o nariz, o que não deixa de ter piada. Vários países da região prepararam-se para a eventualidade de algo correr mal, companhias aéreas cancelaram voos ou mudaram rotas para evitarem o querido foguetão que se chamava Unha-3. A dúvida: e se o foguetão do Gordo não for tão seguro como os foguetões americanos, russos e chineses, que correm sempre bem? E se o foguetão norte-coreano encrava e dá o grandessíssimo peido-mestre mesmo em cima da cabeça, para não ir mais longe, dos vizinhos da Coreia do Sul? Já viram a merda que era?...
Não foi.

Cinco anos passados, a Coreia do Norte do obeso Kim Jong-un lança foguetões um por semana, mas agora as nossas notícias chamam-lhes mísseis, dizem que podem levar bombas a bordo e que conseguem chegar ao Alasca americano, embora por norma caiam como tordos no mar do Japão. Qualquer dia, não...

Em 1978 correu mal uma "aula" de morteiros no nosso Regimento de Comandos. Um instrutor jactante e incompetente, como ainda hoje se exige nos Comandos, apontou para o infinito, despoletou a granada e, sem querer, deixou-a escorregar para dentro do tubo. Pum!, o morteiro só parou em cheio num centro comercial da Amadora... com pessoas por acaso.
Sei disto por estava lá, do lado do morteiro e do instrutor palerma. E não me deixaram vir a casa nesse fim-de-semana.

Sem comentários:

Enviar um comentário