A um burguês
Tu, ventrudo burguês analfabeto,
Escultura rotunda da irrisão,
Para quem o viver mais limpo e reto
Consiste em ser avaro e ter balcão;
Tu, que resumes o teu afeto
No dinheiro - o metal da sedução -,
Pelo qual negociarás abjeto
Tua esposa, teu lar, teu coração,
Escuta, ó ignorantaço, o que te digo:
Esse ouro protetor, que é teu amigo,
Que te deu o conforto de um paxá,
Pode comprar qualquer burguês cretino;
Mas a lira de um vate peregrino
Não compra, não comprou, nem comprará.
Emídio de Miranda
(Emídio de Miranda nasceu no dia 5 de Agosto de 1897. Morreu em 1933.)
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