domingo, 9 de julho de 2017

Azul e Branco, de Vinicius de Moraes

Azul e Branco

(Concha e cavalo-marinho
Mote de Pedro Nava)


I

Massas geométricas
Em pautas de música
Plástica e silêncio

Do espaço criado.

Concha e cavalo-marinho.

O mar vos deu em corola
O céu vos imantou
Mas a luz refez o equilíbrio.


Concha e cavalo-marinho.


Vênus anadiômena
Multípede e alada
Os seios azuis
Dando leite à tarde
Viu-vos Eupalinos
No espelho convexo
Da gota que o orvalho
Escorreu da noite
Nos lábios da aurora.


Concha e cavalo-marinho.


Pálpebras cerradas
Ao poder violeta
Sombras projetadas
Em mansuetude
Sublime colóquio
Da forma com a eternidade. 


Concha e cavalo-marinho. 


II


Na verde espessura
Do fundo do mar
Nasce a arquitetura.


Da cal das conchas
Do sumo das algas
Da vida dos polvos
Sobre tentáculos
Do amor dos pólipos
Que estratifica abóbadas
Da ávida mucosa
Das rubras anêmonas
Que argamassa peixes
Da salgada célula
De estranha substância
Que dá peso ao mar. 


Concha e cavalo-marinho. 


Concha e cavalo-marinho:
Os ágeis sinuosos
Que o raio de luz
Cortando transforma
Em claves de sol
E o amor do infinito
Retifica em hastes
Antenas paralelas
Propícias à eterna
Incursão da música.


Concha e cavalo-marinho.
 

III

Azul... Azul...
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
 

Concha...
e cavalo-marinho.

Vinicius de Moraes

(Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, há quem diga que morreu no dia 9 de Julho de 1980. Poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor, capitão do mato, o branco mais preto do Brasil. Amigo de Amália e de Portugal. Boémio, uisqueiro, fumador e mulherengo, casou nove vezes que se saiba por cá, e não acredito que tenha parado por lá. Sua bênção, meu irmão, saravá!)

Sem comentários:

Enviar um comentário