quarta-feira, 5 de abril de 2017

Vicente de Carvalho 2

Inteiramente louco

Senhora minha, pois que tão senhora
Sois, e tão pouco minha, eu bem entendo
Que sorrindo negais quanto, gemendo,
Amor com os olhos rasos d’água implora.


Meu coração, coitado, não ignora
Que num sonho bem vão todo o dispendo
E é sem destino que assim vai correndo
Cansadamente pela vida afora.


Dizeis do meu amor que é coisa absurda,
E ele, teimando, faz ouvido mouco;
Nem há razão que o desvaneça ou aturda.


Não o escutais? Nem ele a vós tampouco.
Que, se sois surda, inteiramente surda,
Amor é louco, inteiramente louco.
 

Vicente de Carvalho

(Vicente de Carvalho nasceu no dia 5 de Abril de 1866. Morreu em 1924.)

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