quinta-feira, 6 de abril de 2017

João Alphonsus

Em memória de um qualquer 

Terminou a vida. Mais nada nem ninguém.
Mas esta voz melodiosa de onde?
E este silêncio que canta por sobre todos os fins.
Terminou a vida. A vida ficou.


Pisa de leve, que a terra vai florir feito uma bênção.


Pisa com amor, porque os mortos estão debaixo da terra,
Aos pares, aos grupos, rilhando os dentes, tremendo de frio,
No lodo das chuvas, na poeira das ruas. Pisa de leve.


De leve sim, com a resolução do desespero.
Sei lá! Mesmo talvez com cinismo. E um passo adiante.
O noctâmbulo que penetra de súbito numa rua sombria
Não sente mais frio nem calor do que na rua iluminada,
Mas a alma pode se confranger no mistério subitâneo.
Irmão da sombra, essência da sombra. Um passo adiante.
 

O mistério banal que nasce das esquinas escuras.
O sujeito pode querer garantir os níqueis que tem no bolso.
Pode querer garantir sua alma contra o pecado.
Pode assoviar baixinho para romper o silêncio e a sombra.
Pode mesmo cantar qualquer canção de infância.
Braços maternais que o apertaram bastante.
E uma voz que vem de longe, e uma voz que vem de longe,
Sem começo nem fim.
Terminou a vida.


João Alphonsus

(João Alphonsus nasceu no dia 6 de Abril de 1901. Morreu em 1944.)

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