terça-feira, 4 de abril de 2017

Álvaro Martins

A aranha

Da água no úmido seio, a aranha misteriosa,
Artífice do oceano - ao noturnal palor,
Urde os fios, estende a rede caprichosa,
Leve trama irial, de artístico lavor...

E ali, na oscilação da vaga tumultuosa,
Oculta, entre os ramais da flora multicor,
Prende aos elos, no ardil, da teia luminosa,
Algas, conchas, corais, que vogam em derredor.

Calma, às vezes, do abismo a leve face enruga,
Vagarosa arrastando o casco, a tartaruga,
Na doce ondulação do líquido cristal.

Passa perto da teia. E a aranha, que não dorme,
Ao vê-la, se contrai; e, abrindo a fauce informe,
Crava-lhe o frio olhar, venéfico e letal!...

Álvaro Martins

(Álvaro Martins nasceu no dia 4 de Abril de 1868. Morreu em 1906.)

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