domingo, 22 de janeiro de 2017

Plínio Salgado

O burguês é redondo

O burguês é redondo,

mesmo que sejo quadrado, 
mesmo que seja comprido
ou curto.

Mesmo que seja alto ou baixo,

magro ou gordo,
corado ou pálido,
com bigodes ou sem bigodes,
é redondo.

Quer se deite com as galinhas

quer passe as noites nas boates,
quer amanheça no jogo,
é redondo.

Quer frequente as igrejas

ou a casa dos mulheres,
quer tome coca-cola ou uísque,
é redondo.

Quer seja comunista por esnobisrno,

ou fascista por egoísmo,
ou liberal por atavismo,
democrata-cristão, democrato-mação,
trabalhista, socialista, progressista,
o burguês é redondo.
A sua alma é redonda
tem a circunferência das moedas
e a forma das laranjas.

Seu coração é redondo e liso,

redondo o seu estilo, e o seu juízo,
a sua preocupação,
a sua admiração,
a sua paixão.

Tudo escorrega nele.

Tudo escorrega,
nada pega.

Sementes de ideal, de sonho, de heroísmo,

tudo deslisa em seu redondo egoísmo,
nada lhe fica, nem na superfície.

Redondo rola e facilmente passa,

desatento aos clamores da desgraça,
indiferente às dádivas da Graça...

Porque em tudo, e em face de tudo,

nas crises, nas revoluções, na guerra ou na paz,
com medo, ou sem medo,
consciente ou inconsciente,
procurando saber apenas quanto ganha
ou quanto goza,
o burguês, por hereditariedade,
ou por fatalidade,
ou por comodidade,
é redondo, redondo, redondo...

"Poemas do Século Tenebroso", Ezequiel

(Plínio Salgado, que usava o pseudónimo de Ezequiel, nasceu no dia 22 de Janeiro de 1895. Morreu em 1975.)

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