quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CMTV, a televisão PTSUT!

Dei uma espreitadela à CMTV, meia dúzia de minutos se tanto, mas vi que chegasse. Acho que catrapisquei o conceito e percebi o sucesso. A receita está certa. Das catacumbas dos meus trinta e cinco anos de experiência profissional no ofício das notícias, ouso porém sugerir à CMTV uma pequena alteração, coisa de nada, cosmética de pormenor. A CMTV devia mudar de nome e passar a chamar-se PTSUT!, com ponto de exclamação e tudo. PTSUT! - televisão Podia Ter Sido Uma Tragédia! PTSUT!...

Quando eu era mocico e a ambulância saía de sirene em altos berros, acudindo a um desastre, as pessoas de Fafe corriam para as escadas do hospital para esperarem pela volta e assistirem ao espectáculo. O bom do Senhor Ferreira via-se à rasca para manter na ordem aquele povo todo e tolo que fazia guerra por um lugar na primeira fila, sobretudo mulheres afogueadas e gordas, com os socos e o coração nas mãos ou enrodilhados no avental arregaçado. Faço notar que não foi por distracção que escrevi "a" ambulância. O artigo definido é aqui propositado e certo, porque, naquele tempo, dará para acreditar?, os Bombeiros de Fafe tinham apenas uma ambulância, uma velha Skoda vermelha que regularmente ficava sem travões no meio das descidas. Pois, como dizia, as pessoas de Fafe corriam para as escadas do hospital e regalavam-se de braços decepados e orelhas arrancadas e narizes esborrachados e fémures a céu aberto e pés desfeitos e tripas de fora e miolos ao léu e espinhelas partidas e... - Foi tiro?, Foi facada?, Foi sachola?, Foi o home?, Foi a amante? Foi desastre?, Foi o vinho? E muitos Uis! e muitos Ais! e muitos Coitadinhos! e muitos Valha-nos Deus! Estavam ali no relambório, a dar água sem caneco e a benzer-se na direcção da Igreja Nova, mas sem perder pitada. Vampiros mirones, iam ao sangue, queriam sobretudo molhanga, muita, vermelha vermelha como a ambulância que chegava enfim, esbaforida e ganinte. Era um fartote! Uma comoção!...
Agora as pessoas não precisam de ir a correr para as escadas do hospital. Basta sentarem-se em casa a ver televisão.

E mais o seguinte: aquilo que eu disse da experiência profissional, por favor não contem a ninguém. Pode prejudicar-me. Todos sabemos que a tarimba e a memória, hoje em dia, em Portugal, não são precisas para nada. Aliás, só estorvam.

2 comentários:

  1. Experiência profissional, num país de mentecaptos ?
    Era o que mais faltava Hernâni. Era só o que faltava...!

    ResponderEliminar
  2. Épá!(não é o gelado) isto aqui não dá para pôr um like... "I like!"

    ResponderEliminar