quinta-feira, 25 de junho de 2015

Gosto da palavra parreca

Gosto de nomes, gosto de palavras. Gosto do falar antigo: gosto de dizer que está "tudo na ponta da unha", quando me perguntam "como é que vai essa merda?", gosto de dizer que é "daqui, detrás da orelha", quando me perguntam "que tal?" a propósito de uma pinga de arrebenta que fazem o favor de dar-me a provar, verde tinto de preferência.
Gosto da palavra parreca. Pachacha, não. Nem crica. Pito, cona, buceta, siririca, vulva, rata, pássara, passarinha ou perereca, apesar de legalmente registadas, então é que nem admito. Pior, só mesmo vagina, uma obscenidade que me tira do sério e absolutamente comparável à alarvidade de chamarem pénis ao pirilau. Pénis e Vagina (neste caso leia-se vajaina, se não for incómodo), até parecem nomes de um casal da Mattel, e se calhar ambos de virilhas vazias, como os outros dois, o Ken e a Barbie.
Da parreca é que eu gosto. Para além de uns rebuçados de açúcar suponho que amarelo, formatados em pequenos ladrilhos e embrulhados em papéis de cores diversas e garridas, vendia-se antigamente nas feiras e festas de Fafe uma espécie de doce alegadamente em forma de pato, ou de pata, vá lá - e esse doce era a parreca.
Diga-se em abono da verdade, o doce resumia-se a uma somítica camada exterior de açúcar, agora branco, se não me engano, e o resto era um pedaço de massa castanha, azeda e dura como cornos, para lamber, lamber, lamber, lamber... até se desfazer à força de dentes, se a gente não desistisse antes. Era coisa para umas horas, se respeitada na íntrega.
Quando nos vinha visitar, às quartas-feiras, pelos 16 de Maio e na Senhora de Antime, a querida avó de Basto trazia-me sempre uma mancheia dos tais rebuçados e, infalível, uma parreca para me entreter a tarde. Foi decerto daí que eu fiquei a gostar.

3 comentários:

  1. Pode ser condição suficiente para se gostar, mas não é necessária.'

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    1. Felizmente há quem me entenda. O António Daniel, que vai mais vezes à terra do que eu, diga-me, por favor: ainda se vendem parrecas em Fafe?
      Grande abraço,
      h.

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  2. O mais engraçado é que ia colocar um comentário com o nome da minha mulher!!! Infelizmente nunca degustei parrecas em Fafe. Por esse motivo, não estou por dentro da lei da oferta e da procura. Assim que saiba da bolsa de valores, logo lhe comunico, Hernâni. Cumprimentos.

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