segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Camillo de Jesus Lima

Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.
De que serve trancar a porta?
De que serve botar as mãos no ouvido?
De que serve fazer papel de surdo que não quer ouvir?
Gritos de homens na rua entram, apesar de tudo,
Uivos de seviciados entram, apesar de tudo.
Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.

Os enucos estão fazendo flores nas torres de marfim,
Mas eu estou é no meio do mundo.

O rumor das ruas confunde-se ao ritmo do teclado da máquina.
Metralhadoras escrevem poemas no teclado da máquina.
Cavalos estão batendo patas no teclado da máquina.
Gente lutando,
Suando,
Amando, nas cinco partes do mundo.

Quem pode escrever poemas de solidão,
Se portas trancadas nada valem,
Se mãos nos ouvidos nada valem,
Se, fazer o papel do surdo que não quer ouvir, nada vale,
Se os olhos dos morimbundos ficam, no alto, iluminando as páginas,
Se mãos alvas vem acender o cigarro, devagarinho,
Se o rumor da rua vem fazer coro ao ritmo do teclado da máquina?
Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.

Camillo de Jesus Lima

(Camillo de Jesus Lima nasceu no dia 8 de Setembro de 1912. Morreu em 1975.)

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