sábado, 3 de maio de 2014

A minha avó era uma santa

A minha bó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
1 - Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. Os cravos desapareceram.
2 - Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. O cravo desapareceu.
3 - Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembrava de um terceiro e definitivo milagre da minha avó, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.

O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da minha bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e pequerricha, ia a pé entender-se com São Bentinho sempre que era preciso. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar anos, e eu não acredito.

3 comentários:

  1. Na minha família e na da minha mulher aconteceram "milagres" muito semelhantes. Aliás, ainda hoje, em dias de missa em honra do São Bento será fácil encontrar ao redor do templo algumas algumas das nossa avós a trabalhar para a canonização.
    Atenção que, da Barragem do Rio Caldo até São Bento da Porta Aberta vai uma grande estafa e é sempre a subir...!

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  2. CRAVOS PARA SÃO BENTO

    Como solheira ao relento
    A luz da Fé popular
    Vai a casa de São Bento
    Pelo braço do luar.

    Das caleiras das quebradas
    Desaguam procissões
    Com charolas de braçadas
    De cravos e de orações.

    Quem olha para os carreiros
    Por entre os pinheiros bravos
    Até julga que os pinheiros
    Em vez de pinhas, dão cravos.

    São Bento da Porta Aberta,
    O povo sabe onde ficas,
    Porque para o mal que aperta
    És a melhor das boticas.

    Quando a virgem madrugada
    Ainda sonha com astros
    Já a Fé bem acordada
    Traz os joelhos de rastros.

    No meio de tanto cravo
    Até o rei dos ateus
    Dá cinza morta ao Diabo
    E língua de fogo a Deus.

    No rio Caldo me lavo
    Do pecado poeirento
    De tão tarde dar o cravo
    Do coração a São Bento.

    São Bento da Porta Aberta,
    O povo sabe onde ficas,
    Porque para o mal que aperta
    És a melhor das boticas.

    Correio de Fafe, 21/09/1990
    Augusto Fera

    Em: http://augustofera.blogspot.pt/2014/05/cravos-para-sao-bento.html

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