terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Os trolhas e o moço ou o Soares dos pequeninos

No tempo em que havia trolhas em Portugal, os trolhas tinham um moço. Para além de levarem umas valentes e bem merecidas chapadas para aprenderem nunca se soube o quê, os moços faziam os recados: Moço, traz a massa!; Moço, vai ao tasco!; Moço, cata-me os chatos!; Moço, toma conta se o mestre vem!; Moço, anda cá que já vais treinar!; Moço, agarra-me este peido e põe-mo a corar! Era assim.
Hoje os trolhas chamam-se pintores de construção civil, como se trolha fosse defeito. Não sei. Mas os trolhas do PSD têm um moço: chama-se Hugo Soares. A criatura não me interessa para nada (confesso que só este fim-de-semana é que soube da sua triste existência) e o referendo que o rapaz alegadamente propôs interessa-me ainda menos, até porque, como todos sabemos, não vai haver referendo nenhum.
Importa é isto: querendo explicar o inexplicável, o Soares dos pequeninos voltou à carga no sítio onde os homens se mostram - a rede social. E inexplicavelmente explicou que só quis corrigir um gravíssimo erro de lesa-democracia: na altura em que o projecto de lei da co-adopção do PS foi aprovado na Assembleia da República, "o debate (…) não ultrapassou, como devia, os quatro muros do parlamento; (...) devia ser feito na sociedade."
Pois. Os quatro muros do Parlamento. E as subidas dos impostos foram debatidas na rua, com a sociedade? E os cortes nos salários foram discutidos com os trabalhadores, na sociedade? E os reformados foram ouvidos, na sociedade, antes de lhes roubarem as pensões? E o interminável roulement de ministros e secretários de Estado incompetentes e de moral abastadamente duvidosa foi devidamente referendado pelo povo, que suponho seja a sociedade? E alguém me perguntou se eu queria a jovem reformada Assunção Esteves como segunda figura do Estado? Eu não sou sociedade? Afinal, para que serve o Parlamento, se vota e desvota na maior das irresponsabilidades? Afinal, o que é que separa as coisas que podem ser feitas dentro dos quatro muros do Parlamento e as que têm de ser feitas cá fora, em sociedade, eventualmente contra os quatro muros do Parlamento? Tentando desvendar o inexistente raciocínio do Hugo, e após o vergonhoso espectáculo da passada sexta-feira, admito que apenas o urinol.

P.S. - Não esqueci o essencial. Omiti-o propositadamente, porque não quero misturar politiquice de retrete com coisas realmente sérias. Para além disso, o direito das crianças à co-adopção é assunto que, para mim, de tão obviamente justo, não tem sequer discussão.

2 comentários:

  1. Nem mais!
    Obrigado por colocar de forma tão clara esta questão.
    Parece que faz falta algum "esclarecimento" mesmo dentro dos quatro muros do Parlamento.

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