terça-feira, 5 de março de 2013

Os bolinhos da Albertininha da Lameira

Os melhores bolinhos de bacalhau do mundo eram os da Albertininha da Lameira, em Fafe. Contava a lenda que eram moldados no sovaco da prendada cozinheira, o que lhes emprestaria aquele gosto tão peculiar. A vila antiga dava-se muito a estas lendas: dizia-se também, por exemplo, que os tremoços da Marrequinha da Recta eram a especialidade que eram porque a boa senhora lhes mijava.
A verdade é esta: ainda cheguei a ver a Albertininha, numa tarde de sábado, a fazer a massa dos famosos bolinhos, de alguidar entre as pernas, junto ao fogo da lareira, mas a história do sovaco enformador era uma treta - isso posso jurar, e tive pena.
Os bolinhos do Manel do Campo também eram de se lhes tirar o chapéu. E, de um modo geral, as pensões e os tascos de Fafe faziam gala de confeccionar e servir um produto, como agora se diz, fiel às origens e de altíssima qualidade. Esta tradição local mantém-se, em sítios como, veio-me agora a ideia à boca, o Fernando da Sede (Adega Popular). Os bolinhos de bacalhau com salada de feijão-fradinho e arroz do Fernando surpreendem e encantam os visitantes, e, para os da terra, são uma esplêndida entrada para a vitelinha que há-de vir. Mas isso, nos tempos que correm, é já refeição a pedir uma segunda hipoteca da casa.
É. Os bolinhos "de morrer por mais" são no Minho - bem o sabia mestre Aquilino. Em Fafe, é claro, mas também no Manuel Padeiro e no Gaio, em Ponte de Lima e em dias sim, ou no Conselheiro, em Paredes de Coura, sempre. Em sítios assim, que os há bons e tantos.
Parece-me tolice, portanto, criar uma task force de "especialistas" e simpatizantes, como fez o jornal Público, para provar bolinhos de bacalhau comprados em pastelarias e cafés de Lisboa e do Porto. Ainda por cima, os lisboetas chamam "pastéis de bacalhau" aos bolinhos de bacalhau. (É como os franceses chamarem "fromage" a uma coisa que toda a gente sabe que é queijo). Só podia dar merda e deu. Já se sabia. Já deviam saber. Qual era a ideia? E tomem nota os doutos paineleiros: o resultado seria o mesmo se mandassem vir arroz de grelos, pastelões de petinga, pataniscas ou caldo de nabos. Os cafés e as pastelarias do Porto e de Lisboa não são para esses preparos, estão a perceber? Vá lá, o caldo de nabos... talvez.

7 comentários:

  1. Dos bolinhos de bacalhau da lameira só posso dizer bem. Já dos tremoços da marrequinha (minha vizinha), nem por isso - seria já da idade... o mijo já não estaria aquela coisa. Para compensar, tinha outra vizinha que os curtia como ninguém. A Se Rosa do Firmino! Diziam que era da água da mina - nascida bem fresca nas bordas do alto das freiras e que vinha anichar-se à fábrica Pólo. Nunca fui nessa teoria - o segredo, para mim, estava na cabeça de chicharro que a Se Rosa trazia guardada, no bolso da bata, desde o dia anterior - em dias mais fartos uma ou duas asas de frango - e que ia depenicando enquanto mudava a água à tão apreciada leguminosa. Ou será antes um bivalve?... tenho que perguntar ao chef José Alexandre, ele sabe dessas coisas assim... técnicas!

    JvD

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  2. Já se comia qualquer coisinha!
    Grande abraço,
    P.

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  3. Caraças tio Nane é mesmo isso, como foi que se lembrou?
    Bem tentei lembrar-me ontem da D. Albertininha da Lameira, para comentar a "problemática dos bolinhos de bacalhau", mas confesso que a memória me atraiçoou, já a sua estou a ver que continua como sempre, de vento em popa.
    Bjnhos
    Guida

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  4. As punhetas também eram boas! Vou furtar. Abraço

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  5. As punhetas também eram boas! Vou furtar. Abraço

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