quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Atenção, muita atenção! 3

A frase era: "E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Mas só funcionava se fosse metida no meio de uma marcha do John Philip Sousa, que para mim era um músico português de Castelo de Paiva que tinha ido para a América em pequenino. Eu sabia que no Pejão havia por aquela altura uma grande banda de música, quase tão boa como a nossa, a de Revelhe, e era por isso. Quanto à marcha propriamente dita, de preferência Stars And Stripes Forever. Isso, sim, era serviço profissional. Serviço completo.
Eu adorava os altifalantes. Chamavam por mim e eu ia. Eram sinal de futebol no Campo da Granja, eram Festa da Bomba, eram o Santo António na minha rua, eram a Senhora de Antime que vinha à vila numa tremenda e comovente procissão. E adorava aquela frase. O meu sonho era dizê-la quando fosse grande.
E disse. Vezes sem conta, anos mais tarde, já os altifalantes tinham sido promovidos a "instalações sonoras" e a bola rolava no Estádio de campo pelado. Sim, o microfone agora era meu, eu era o rapaz da "constituição das equipas" e daqueles reclames muito jeitosos que terminavam todos em "... nesta simpática lo-ca-li-da-deee". E nem imaginam o que eu sofria quando andava de catrel pelas aldeias de Fafe, mais o Pimenta, a anunciar os filmes do cinema ao ar livre e sem poder dizer a frase. Mas não encaixava de maneira nenhuma a puta da frase. Que seca! E os filmes também.
"E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Era a frase da minha infância e andou sempre comigo. Até na profissão. Quando passei pela Informação da Rádio Comercial, no tempo da RDP, muitas vezes a disse, como teste, na gravação de uma notícia ou apenas por brincadeira, de microfone fechado, antes de ir para o ar com o noticiário.
Nunca chegou cá fora, e foi o que os senhores ouvintes perderam - como certamente estão agora a perceber. Em contrapartida, uma vez, no final de um bloco noticioso particularmente bem conseguido, saiu-nos - ao colega de cabina e a mim - um "Até os comemos!", de microfone distraidamente aberto e destinatários certos, que ainda hoje é o nosso orgulho.
Porque "Até os comemos!" também é uma bela frase e resulta muito bem em rádio. Mas, verdade seja dita, não tem comparação com a outra, a dos altifalantes, pois não?

4 comentários:

  1. Para ser verdadeiramente real, só falta o rzchchhcrzchh pelo meio!
    Ehehehehehehe
    Grande abraço,
    P.

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  2. Não sabia que tinhas sido speaker de futebol, grande Hernãni!!
    Fixe
    hehehe
    Abraço
    Nestes

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    1. Se não sabias é porque não estiveste atento nas aulas. O que é grave! Abraço e um grande hehehe também para ti.

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