domingo, 23 de dezembro de 2012

Iam chover pára-quedistas, mas esteve um rico dia

Hoje ia chover pára-quedistas na Praia de Matosinhos. Era a previsão e estava tudo preparado: um enorme círculo reservado no areal com um ponto de mira ao centro que era impossível falhar, uma manga de vento desbotada e preguiçosa, uma lancha da Polícia Marítima, logo a seguir à rebentação, para que o desse e viesse, a Cruz Vermelha, a PSP, a imprensa local, as câmaras da RTP e do Porto Canal, uma pequena multidão, e eu também, todos de nariz para o ar à espera da coisa. E estava um rico dia.
Eram pára-quedistas pais natais. O anunciado ponto alto da campanha Natal Solidário, promovida pela imparável António Parada, o presidente da Junta que trabalha todos os dias para ser presidente da Câmara. E se calhar merece. Leio que foi recolhida uma tonelada de alimentos para distribuir pelas famílias mais carenciadas. Dir-me-ão: a solidariedade-espectáculo é aviltante, fazer do Natal um carnaval é de mau gosto. Pois será. Mas tenho resposta para isso: tomem lá uma tonelada de comida e, já agora, as três prendas do post anterior, que também faziam parte da festa. Da campanha, quero dizer.
Mas de que é que eu estava a falar? Dos pára-quedistas pais natais, pois. Passou a avioneta e subiu quanto mais pôde para lhes dar o lanço necessário. Lá em cima, pontinhos apenas, para os lados da Senhora da Hora, muito para os lados da Senhora da Hora, saltou um, saltou outro, mais um e mais outro. Eram quatro, poucos para serem chuva, mas eu já disse que estava um rico dia.
E nós cá em baixo à espera, à espera, à espera. À esssss-peeeee-raaaaa! E os pára-quedistas, em vez de virem, iam. E de repente desapareceram. Desabaram em cheio na cidade, cada qual para seu canto, onde calhou, espalhando sustos e sinais de solidariedade. Um deles caiu em cheio no quintal da Dona Angelina, que gritou "Valha-me Deus!", convencida de que era o fim do mundo em pára-quedas e com dois dias de atraso.
A culpa foi do vento. Comigo as coisas não ficam assim e fui tirar satisfações com um dos caídos em parte incerta, trazido para o arraial por meios alternativos. Chama-se Pedro e gostei muito de o conhecer. Perguntei-lhe, sem paninhos quentes, "A culpa foi do vento?", e ele respondeu-me, sem papas na língua, "A culpa foi do vento". Portanto a culpa foi do vento. Vento contrário, inopinado, investiga-se agora se contratado à última hora pela facção guilhermista do PS matosinhense.
Os pára-quedistas estão todos bem. Se pelo menos um deles tem entrado por uma chaminé, seria um sucesso. Mas fica para a próxima. Entretanto, e descontada a demagogia, há uma tonelada de alimentos para quem mais precisa.

Pedro, o pára-quedista - Foto Hernâni Von Doellinger

2 comentários:

  1. O vento é danado. Um deles aterrou em pleno estádio do Mar a meio do treino!
    Grande abraço,
    P.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. No estádio? Então esse foi quase na muche! Se calhar foi um problema de comunicação, confusão entre mar e Mar...
      Grande abraço.

      Eliminar