domingo, 24 de junho de 2012

O meu Santo António, em honra do São João

Quando eu era pequeno, Fafe tinha três grandes festas e eram as maiores festas do mundo: a Senhora de Antime, a Festa da Bomba e a cascata do Santo António na minha rua. Hoje sei que Fafe tem duas festas de considerável importância local: a Senhora de Antime, ainda e sempre, e essa recente e extraordinária festa da cultura que são as Jornadas Literárias.
Para que não pensem que a minha memória exagera, deixem-me contar-lhes o seguinte: no nosso Santo António até tínhamos altifalantes, que o Zé da SIF arranjava e aquele pedaço de Fafe regalava-se a ouvir o "Tango dos Barbudos", o "Fado das Trincheiras" e o "Je T'Aime Moi Non Plus", que era proibido e eu nunca percebi o que é que estava ali a fazer. O Zé da SIF é irmão do Armando Perrinha, e eles mais o Zé Maria, que foi comando no Ultramar, a Dina e a Luísa são filhos do Agostinho Cachada e da Senhora Laura, família quase minha, vizinhos do coração e gente do melhor que pode haver.
Os discos deviam ser poucos. O "Tango dos Barbudos", parece que lhe estou a ver a capa, tocava vezes sem conta e o "Se eu morrer na batalha só quero ter por mortalha a bandeira nacional", do Fernando Farinha fardado, fazia a rua inteira chorar, não sei se por causa do Zé Maria já estar na guerra. Dessa parte não me lembro bem. Lembro-me é que nem com o "Je T'Aime" se me arrebitava o pirilau, também não sei se por medo de ir preso ou por o meu corpo ainda não ter idade para semelhantes acrobacias.
Tínhamos foguetes também. Eram foguetes de três-croas, foguetes envergonhados, quase peidos, se me dão licença, géu, trás, trás, adeus e até ao próximo. E tínhamos girândolas e diabos-encaixados. Tudo comprado no Rates, mais ou menos onde está agora escondido o monumento à Justiça de Fafe. Quase tudo comprado no Rates, devo corrigir-me: na verdade, íamos em bando para nos aproveitarmos das distracções do homem, a antipatia enfiada numa larga bata de sarja cinzenta e com manguitos, e metíamos ao bolso tudo o que lá coubesse. Levávamos muitos bolsos e o mais certo é que o Senhor Rates até fosse boa pessoa.

Estávamos portanto no Santo Velho, quando a minha rua era um largo de terra e tílias e nem desconfiava que um dia havia de ser uma estrada com semáforos e tudo. Hoje a nossa cascata seria multada por estacionamento proibido.


(Parte do texto A Festa da Bomba, que escrevi e publiquei no passado dia 22 de Abril)

2 comentários:

  1. Mais um de categoria e de ir às lágrimas! Amanhã lá estarei atrás da vitela da minha irmã São, das primeiras cerejas da feira e dos rosquilhos :)À tarde há passeata pela «vila» para ver o pobo que não vi o ano passado:) Estás convidado Hernâni!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado, Fernanda. Goza muito e beijinhos e abraços para a tua nossa gente.

      Eliminar