domingo, 20 de maio de 2012

Lá vem a "mudança de paradigma"

Ontem jogaram os alemães e no fim ganharam os ingleses. O prélio de Munique era uma bagatela desportiva, um evento turístico, folclore, bebedeira de cerveja e televisão: toda a gente sabe que o futebol a sério terminou fez exactamente ontem oito dias, em cima de um autocarro descapotável, na portuense Avenida dos Aliados. Todavia, porque o Bayern jogou e o Chelsea ganhou, aposto um emprego em como, hoje, jornais e outros comentadores encartados vão fartar-se de descobrir que houve uma "mudança de paradigma" no futebol europeu. Como já aqui dei a entender, "mudança de paradigma", sendo uma expressão pletórica de concomitância e mais na moda era impossível, não quer dizer absolutamente nada. Não interessa para rigorosamente nada. Mas

faz-me lembrar pecados velhos. Recua-me à década de oitenta do século passado, ao cimo da Rua de 31 de Janeiro, onde havia uma casa de jogos de máquinas de flippers e afins que tinha uma cave com um altifalante fanhoso que, de uns quantos em quantos minutos, gritava cá para fora a curiosa frase "Mudança de modelo". Lá em baixo parece que havia umas raparigas muito jeitosas e nuas a fazerem não sei o quê e umas cabinas individuais e sebentas com ranhura para a clientela meter a moeda como nos flippers e espreitar por um vidro e fazer também não sei o quê. Sei muito pouco do assunto porque, palavra de honra, nunca lá pus os pés. E, agora que penso nisso, nem me lembro sequer porquê. Mas estou arrependido.
Informei-me. "Mudança de modelo", logo a seguir ao ding-dong de uma campainha de aeroporto, queria dizer, por exemplo, que a morena mamuda passava a pasta à loura pernalta e ia para os bastidores ler a Corín Tellado, e assim sucessivamente e vice-versa, mas decerto queria dizer também que os clientes tinham que fechar a braguilha o mais rapidamente possível e dar a vez a outros, que eram mais que as mães, sobretudo no intervalo de almoço. O speaker de serviço dizia "Mudaaaança de modeloooo" com um garbo só comparável ao do mestre-de-cerimónias do Circo Merito quando anunciava a sensacional "Maribelaaaa no seu rrrrrola-rolaaaa". Eu gostava: "Mudaaaança de modeloooo"! Parava em frente para ouvir, uma e outra vez, até à hora de voltar ao trabalho. E ria-me. Quase trinta anos depois, leio e ouço a "mudança de paradigma". E também me faz rir, confesso, mas não me arrebita. Falta-lhe sustância.

5 comentários:

  1. Hernâni
    Conta aqui para mim, que ninguém nos ouve, quantas moedinhas de cinquenta paus gastaste lá. Lembras-te, eram lindas, brilhavam e até tinham uma percentagem de prata.
    Por essa altura eu teria os meus trintinhas, ganhava mal, tal como hoje, mas desci as escadas, penso que duas vezes, não abri a braguilha, nem me lembro de jogar "bilhar de bolso", mas gostei e era legal, por isso eles tinham o altifalante virado para a rua. Mas tu, Hernâni, que serias por essa altura um adolescente, muito mais corajoso que eu, não desceste as ditas escadas. Mais uma razão para eu prezar a tua amizade.
    Gaspar de Jesus

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  2. Ó Gaspar de Jesus, parece impossível!
    Grande abraço. Muito obrigado pela visita e pelo comentário. Vai em paz e que o Senhor te acompanhe.

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  3. É curioso! Tenho ideia de lá termos dado um salto juntos:). Mas nada de confusões!...
    cm

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    1. Estará o caro amigo a fazer confusão. Às tantas ainda começa a espalhar por aí que eu alguma vez fui ao Pérola Negra ver "sexo ao vivo" ou frequentei outros gerúndios mais ou menos alternadeiros. Olha se o Relvas ouve!
      Em todo o caso, obrigado pela visita e pelo comentário.

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    2. Longe de mim aborrecer o Relvas com mais comportamentos desviados de jornalistas!...

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