quinta-feira, 6 de outubro de 2011

E diz o inteligente que acabaram as ilusões

A esfinge de Belém decidiu ontem matar de vez os sonhos dos portugueses. "Acabaram os tempos de ilusões", decretou Cavaco Silva, ignorante como é seu timbre, sem sequer suspeitar o lado bom da palavra ilusão, o lado que nos mantém vivos e esperançados. Porque as palavras, ao contrário do Presidente da República, não têm apenas o lado mau.
Cavaco quer que os portugueses "redescubram o valor republicano da austeridade digna". Ele que vá explicar tão elevado conceito aos quase 700 mil desempregados, aos milhares de sem-abrigo que se multiplicam pelas ruas como cogumelos envenenados, às filas sem fim nas sopas dos pobres, às mães que se desfazem dos filhos recém-nascidos.
Cavaco quer que os portugueses - sem emprego, sem subsídio de desemprego, sem reforma, sem casa, tendencialmente sem direito à saúde, sem dinheiro, sem pão e finalmente sem ilusões - "cultivem estilos de vida baseados na poupança". Só se pouparem no ar que respiram e que ainda não paga imposto. Mas aqui Cavaco sabe do que fala: foram os seus amigos que inventaram o BPN, a maior burla da história de Portugal, e ainda lhe deram algum a ganhar.
"Perdemos muitos anos na letargia do consumo fácil e na ilusão do despesismo público e privado", diz Cavaco. A esfinge de Belém esfinge muito mal. Parece que não teve nada a ver com a merda que nos fizeram e nós deixámos fazer. Onde é que ele estava nesses anos todos, nesses tempos de regabofe? A tomar conta, sempre a tomar conta. No poder ou na sombra do poder, mas sempre a tomar conta. E agora finge que não é nada com ele. E nem tão-pouco esboça um pedido de desculpas aos portugueses.
Este país é uma tourada. Estamos entregues aos bichos. E diz o inteligente que acabaram as ilusões?

O 5 de Outubro deste ano só me deu desgostos. Que raio de língua é que estava a falar António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, quando, no seu discurso, meteu a palavra perzeverança? Isto não é perzeguição, palavra de honra, mas em que gramática é que o edil lisboeta descobriu que um s a seguir a um r se lê z? Lá em casa tem perzianas? E será que vai perzistir no erro? É bem capaz, ele é um tipo muito perzistente.

4 comentários:

  1. caro Hernâni
    Bom seria que deixasse-mos de ter motivos (maus motivos) para falar desse cidadão. Mas ele insiste em ofender a nossa memória...!
    E não lhe adianta nada fazer de conta que morreu e que agora renasceu. Está com nova roupagem, (leia-se, novo discurso), mas é o mesmo sem-vergonha, que durante os 10 ou 12 anos de primeiro-ministro (já nem sei) deu cobertura ao regabofe que se conhece. Durante os mandatos de Cavaco entrou tanto dinheiro por minuto em Portugal, que, se fosse água, provocaria um dilúvio tal, que, até ele próprio morreria. Mas em vez de água, a corrente foi de dinheiro. Dinheiro que provocou alguns sorrisos ao sorumbático Cavaco, mas que o obrigou a assinar vários crimes de lesa-pátria, como a redução drástica da nossa Frota Pesqueira de longo curso, o abate das nossas Oliveiras, os eucaliptos que mais ninguém quer, propagaram-se em velocidade vertiginosa, as multas para os produtores de leite que ultrapassem a cota que lhes está atribuída, etc. etc. etc.
    Ele, que destruiu a Indústria de Lanifícios, ao afirmar que deveriam ser os Industriais sem qualquer apoio a preparar as suas empresas para a competitividade que seria necessária depois da nossa entrada mercado no comum e cuja resposta dos ditos senhores foi, o aumento significativo das Colecções de Automóveis nas luxuosas vivendas e o aumento de Barcos de Recreio na Marina de Leça da Palmeira.
    Tudo permitiu aos LADRÕES que o trouxeram pela mão para a cúpula do PSD ( por isso lhe chamava-mos o Ali Baba)Não sei se seriam propriamente 40...mas foram mais que suficientes para roubar o que de melhor Portugal tinha.
    Ladrões estes, que continua a proteger o mais que pode e a conviver com alguns deles no tal condomínio de luxo e por cuja habitação terá pago pouco mais que um prato de lentilhas e em cujo quarteirão a Polícia tem ordens para não permitir o acesso! E acho bem, que não permita, mas então, deveria colocar sinalética, referenciando a área como perigosa.
    Este é o mesmo Cavaco que, ofereceu os seus préstimos à PIDE/DGS antes do 25 de Abril.
    Este é o Cavaco que, quando confrontado com o drama das muitas centenas de Ex-Combatentes do Ultramar a precisar da ajuda que o país lhes deve, terá respondido mais ou menos assim - " não vale a pena preocupar-mo-nos! Daqui por meia dúzia de anos serão apenas metade". Esqueceu-se porém, o sonso Cavaco,que também Ele esteve como militar em Moçambique, que já ultrapassou os 70, e que, se a sua saúde dependesse do SNS que ele ajudou e ajuda a destruir, provavelmente já estaria MORTO.
    Gaspar de Jesus

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  2. Li e reli o que escrevi, mas passa sempre um outro erro. Se alguns não têm importância, um há que precisa de ser corrigido.
    Onde escrevi "Centenas de Ex-Combatentes do Ultramar, deveria ter escrito "Centenas de milhar".
    Abraço
    Gaspar de Jesus

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  3. Caro Gaspar,
    Mais uma vez, muito obrigado pelo seu contributo. O caro amigo lembra bem o facto de ter sido Cavaco um dos liquidatários da nossa frota pesqueira e da nossa agricultura. O "novo" Cavaco, agora, manda-nos de volta às pescas e aos campos...

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  4. Alguns dos habituais leitores do Tarrenego! queixam-se de que não conseguem publicar os seus comentários. Enquanto não ultrapassamos o problema (que eu ainda não sei qual é), aqui fica o comentário de M., chegado por via alternativa:

    "Esta nossa comichosa tendência para os brandos costumes tem-me agravado o pé-de-atleta. A verdade é que nos países ricos já andaram (andam) a partir montras. E nós, nada... É uma das contradições desta raça lusitana: somos asnos mas padecemos de passividade bovina. M."

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