quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O meu cão

Eu tenho um cão imaginário. Chama-se Parkinson, porque quando quero chamar por ele nunca me lembro do nome Alzheimer. A raça do meu cão tem dias, vantagem de ser imaginário: às segundas é perdigueiro, às terças é labrador, às quartas é são bernardo, às quintas é pastor alemão, às sextas é dálmata e aos fins-de-semana é sobretudo rafeiro. O meu cão nasceu no país certo.
O meu cão fica-me muito em conta. Não come mas cala, dispensa vacinas e vitaminas, nunca vai ao veterinário, não precisa de casota nem de agasalhos para o inverno, e só me custa o preço da trela. O meu cão conhece o dono e não morde a mão que não o alimenta. Se todos fôssemos cães assim, vínhamos mesmo a calhar ao Governo da Nação.
O meu cão faz-se muito bem de morto e corre atrás de qualquer merda que lhe atire. Só lhe falta falar. O meu cão não ladra às pernas das pessoas, não abocanha, não caga no passeio, não mija nos pneus do carro do vizinho, não tem pulgas nem chatos, nem anda por aí a emprenhar cadelas mais ou menos oferecidas. É como se não existisse. O meu cão é um exemplo de cidadão.
Já mo quiseram comprar e eu não o vendi. Foi um vendedor de empregos imaginários. Oferecia-me dois empregos em troca do meu cão. Nã! Antes quero o cão.

2 comentários:

  1. Só não trocava o das sextas!
    j.

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  2. Já estava à espera. Mas o caro amigo trocava o seu cão imaginários por dois empregos imaginários? Eu, nem que fossem três. Continuo a preferir o cão.

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