sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aramis

O Aramis andava ontem à solta no Parque da Cidade. O jornalista da TVI Júlio Magalhães também, participando numa sessão fotográfica suponho que do escritor Júlio Magalhães, e nem faltava um dos espreitas do costume no miradouro do costume, equipado de perversão e binóculos mal disfarçados, à cata de parzinhos no marmelanço. Mas do que eu quero falar hoje é do Aramis, um cão, bem bonito por sinal, de raça... grande, que se afastou da alçada da dona e resolveu começar a rondar-me, primeiro, a ladrar-me, depois, e a ameaçar abocanhar-me logo que lhe apetecesse.
Eu fiz o que pude, dadas as circunstâncias: acagacei-me até mais não, a bem dizer paralisei, ainda por cima passou-me pela cabeça que de repente se desemboscassem por detrás das árvores o Porthos, o Athos e até o d'Artagnan para ajudarem o Aramis e então é que eu me borrava todo. Uma vergonha.
Portanto era nisto que nós estávamos: eu ali à rasquíssima, nem para a frente nem para trás, e o estupor do cão (eu já disse que era bem bonito por sinal?) com a dentuça cada vez mais arreganhada e mais próxima dos meus ricos calcanhares. A dona bem chamava por ele, aflita, "Aramis, anda cá, Aramis, anda cá", foi assim que eu fiquei a saber o nome do animal, mas ele deixa-te estar que eu já te atendo.
"Desculpe, ele só quer brincar", aproximou-se de mim a dona, a ver se lhe punha a mão e é o pões. "Mas eu não, minha senhora", saiu-me numa vozinha de falsete e o coração quase que vinha atrás. Não consegui articular, mas eu tinha sérias dúvidas de que o cão estivesse informado de que só queria brincar.
Finalmente, num assomo de determinação e talvez desespero, a senhora gritou, dura, autoritária, "Aramis, anda já aqui à dona!", conferindo uma inflexão muito forte à palavra DONA. E o cão acordeirou, deixou-se prender e levou um raspanete. Eu saí dali para fora logo que as minhas pernas me deixaram, dando graças a Deus por na verdade haver cães que conhecem o dono. A dona.
Agora, a minha ideia é esta: o Parque chega para todos, pessoas, cães e até outros animais mais ou menos selvagens, como, por exemplo, as bicicletas. Mas, tendo em vista uma convivência pacífica entre todas as espécies, impõe-se que alguém ande pela trela. Ou eles ou nós. A mim dá-me igual, como muito dizem os espanhóis em geral e esse moderno miguel-de-vasconcelos chamado André Villas-Boas.

2 comentários:

  1. Ó Neques, caramba, até já os cães são selectivos...rsrsrs
    Olhe lá se esse tal de «aramís» se atirou ao meu amigo JUCA...é o atiras... ele, pelos vistos sabe bem onde estão os "todo-poderosos" deste país, enquanto que ao Neques, era pra já! Se Rui Rio fosse um cidadão como qualquer outro por certo que já teria decretado que, cães dentro do Parque, só com a dona pela trela.
    Abraço
    Gaspar de Jesus

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  2. Caro amigo,
    Obrigado pela visita e pelo comentário. Vou pedir ao Quitério que remeta a sua sugestão ao senhor presidente da Câmara.
    Sempre a considerá-lo,
    Neques

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