segunda-feira, 20 de junho de 2011

Villas-Boas. Estavam à espera de quê?

Aviso já: acho muito bem que o André Vilas-Boas vá para o Chelsea. Era preciso ser parvo para não querer ganhar cinco milhões de euros por ano. E Villas-Boas não é parvo. Não percebo, portanto, o alarido que por aí vai, o despeito dos traídos, que acusam o jovem técnico de ter renegado o seu portismo desde pequequino, que não lhe perdoam o abandono da cadeira de sonho. E ouço choro e ranger de dentes.
Até parece que caiu o Carmo e a Trindade...
Mas estavam à espera de quê? Do triunfo dos valores? Do amor à camisola? Tretas! Estes tipos são assim: egoístas, vaidosos, ambiciosos, calculistas, insensíveis, falsos num certo sentido. Exactamente no sentido de serem... falsos. Têm estas qualidades todas, preenchem o perfil completo do homem de sucesso. Por isso é que os tubarões os querem para treinadores (ou para presidentes de empresas, ou para directores de jornais), e não por eles irem à missa todos os dias. E estes tipos vingam sempre, quase sempre. Com a rapidez e a pujança de um eucalipto.
André Villas-Boas fez um trabalho sensacional no FC Porto. Foi apenas um ano, mas foi bom enquanto durou. O clube e os portistas só têm que estar gratos, concedendo-lhe uma despedida sem rancores e com votos de boa sorte.
Villas-Boas é jovem, competente, quer ficar (ainda mais) rico (ainda mais) depressa. Tem todo o direito a tratar de vida. Ainda por cima, sai do Dragão com respeito absoluto pelo contrato que assinou com Pinto da Costa: o Chelsea vai pagar ao FC Porto os 15 milhões de euros referentes à cláusula de rescisão aceite de mútuo acordo por treinador e presidente e que existe precisamente para estas situações. Que querem mais?
E quem pode negar a Villas-Boas o direito a sonhar – ele é muito dado a sonhos – com a unanimidade nacional, esse beatífico desiderato só possível de alcançar quando se deixa o FC Porto? E, de preferência, deixando-o de calças na mão.
Depois há o dinheiro. Voltamos sempre ao dinheiro. Ah!, sim, o vil metal. Vil metal, o raio que os parta! Vil metal é contar os cêntimos, vil metal é ganhar o salário mínimo, vil metal é estar desempregado, vil metal é receber o subsídio de desemprego, vil metal é perder o subsídio de desemprego, vil metal é não ter dinheiro para gastar na farmácia, vil metal é ver os filhos com fome, vil metal é ter vergonha de roubar! A iglantónica quantia de cinco milhões de euros/ano multiplicada por três anos não é vil metal. É uma fortuna instantânea a que não se pode dizer não. Seria pecado! Sem perdão! Porque, nisto de traições, ainda vai alguma diferença entre 30 dinheiros e 15 milhões...
Este fim-de-semana saíram-me seis euros e noventa e cinco cêntimos no Euromilhões e eu fiquei bem contente. Eu não sei ao certo quanto dinheiro é cinco milhões de euros por ano. Só se me explicarem em camiões (isto é, se me disserem: “dá para encher xis camiões com notas”...). Mas suspeito que cinco milhões de euros por ano são muitos, muitos camiões. E ainda bem, melhor para o André.
Os argumentos, acredito piamente, estão todos a favor do jovem técnico. Na maioria das críticas que lhe fazem, vejo alguma inveja e muita hipocrisia. Vejo, sim senhor. E não gosto do que vejo.
Ó sepulcros branqueados! Ó raça de víboras! Digo-vos só isto: deixai o homem em paz! Quem de entre vós nunca aceitaria ir treinar o Chelsea por cinco milhões/ano que atire a primeira pedra!
Eu vou apanhar o avião.

4 comentários:

  1. Pinto da Costa, hoje, deu-me razão. Sou fino como um alho. Ele, o PC, é que não sabe.

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  2. Um amigo mandou-me, por outro meio, uma palavra com ponto de exclamação acerca do comportamento de André Villas-Boas neste caso que nunca foi. E a palavra com ponto de exclamação era "Cabrão!". Eu respondi: "Cabrão, mas por uma boa causa: cinco milhões por época. Eu ia por menos". Só para que saibam.

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  3. Só tretas, ó Neques. Estás completamente enganado - é tudo ao contrário. Temos direito à indignação e à raiva, sim senhor. Mesmo que não temos razão nenhuma. Mesmo que a razão esteja toda do lado daquele FDP (que não está). Da mesma forma que merecemos ganhar todos os jogos, mesmo quando não ganhamos, mesmo quando não merecemos. Quem vai à bola, dá e leva.

    PS - Eu, se fosse treinador do Porto, não ia para o Chelsea, nem para lado nenhum. Porque eu é que sou o genuíno portista-desde-pequenino.
    M.

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  4. Caro M.,
    Começo por agradecer a amabilidade da visita de V. Ex.ª, registando a assertividade da premissa de onde emana todo o seu raciocínio. Com efeito, eu é só tretas, tem toda a razão.
    Creio,por outro lado, que V. Ex.ª não atingiu todo o alcance desta treta em concreto. Falta a V. Ex.ª, ouso sugerir, a cultura do subtexto. Numa próxima oportunidade, poderei talvez dissertar, numa nova mensagem, sobre esta outra interessantíssima treta: a problemática do subtexto ou o reino do duplo sentido.

    Verifico também que V. Ex.ª é um portista como deve ser, e isso só lhe fica bem. Se um deste dias nos (re)conhecermos - onde raio foi arranjar a confiança para me tratar por tu? -, terei todo o prazer em apresentá-lo ao meu amigo Quitério, outro portista de via única.
    Sempre a considerá-lo,
    Neques

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